Por Michelle Reis*
Um tema surpreendente e uma idéia ousada. Estes foram os dois motivos que levaram à produção de um filme sobre a origem de uma localidade da serra do mar, no Rio de Janeiro: Quilombo, no município de Casimiro de Abreu. Com o mesmo nome de um drama de 1984, do cineasta Cacá Diegues, o documentário também aborda a temática quilombola e registra a passagem histórica da colonização suíça e alemã no interior do Estado.
Em seus estudos, a historiadora Renata Lima mostra indícios de que o lugar, onde atualmente residem apenas brancos com olhos claros, foi um refúgio de escravos, denominados quilombolas. Outras características visíveis até hoje denotam que o local era realmente um quilombo: o difícil acesso, com uma subida íngreme (que até pouco tempo só podia ser feita com veículo tracionado), altitude aproximada de
Tudo começou com uma pesquisa de cinco anos que virou monografia de graduação da historiadora. Ela conta que ficou curiosa ao perceber que na localidade só existiam “loiros de olhos azuis”. Foi então que das buscas na Biblioteca Nacional, no Centro de Memórias de Nova Friburgo e a aquisição de alguns materiais sobre a colonização suíça e alemã na região, cedidos pelo historiador Martin Nicolin, surgiu a monografia, a qual em 2008, se transformou no curta-metragem documentário, “Quilombo”, financiado pela Fundação Cultural Casimiro de Abreu, com apoio da Universidade Federal Fluminense e Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O filme de 16 minutos, dirigido pela jovem cineasta Nina Tedesco, traz depoimentos de moradores da região, pesquisadores e professores. Um dos protagonistas do documentário é Alci da Silva, de 89 anos, mais conhecido como “seu Cicí”. Ele é membro da última família de negros que viveu na localidade serrana casimirense, mas que foi expulsa por descendentes de colonizadores suíços, há aproximadamente 40 anos.
Origem histórica - As pesquisas revelam que o confronto entre suíços e quilombolas data de 1823. Renata Lima lembra ainda que os descendentes de colonizadores chegaram a cogitar a troca do nome da localidade por “Nova Suíça”, mas exitaram por acreditarem que as pessoas teriam muitas dificuldades em localizar o “Quilombo”, já que era um nome centenário.
Há registros de que existiram quilombos em diversas regiões do Brasil. Muitas das terras que serviram de refúgio para escravos, negros e mestiços fugidos se transformaram em remanescentes de quilombo, os quilombolas, que atualmente ultrapassam 800 comunidades reconhecidas e tituladas pelo governo federal. Originalmente longínquos, hoje próximos ou engolidos pelos centros urbanos, as comunidades quilombolas disputam a ocupação das suas próprias terras para garantir a sua reprodução física, social, econômica e cultural.
Projeção internacional - Lançado no dia da celebração da Lei Áurea, 13 maio, na Sala Popular de Cinema Humberto Mauro, em Casimiro de Abreu, “Quilombo” permanece em cartaz até o final de maio, de quarta a sábado, às 19h, sempre antes da exibição de um longa. A entrada é franca.
No próximo mês o curta entrará em cartaz nos cinemas da Uni-Rio e da UFF. A equipe de produção tem planos de ganhar as salas do exterior. Por isto já traduziram o documentário para o francês, inglês e português para deficientes auditivos.
Uma outra meta para a historiadora Renata Lima para consolidar o registro do quilombo serrano é fazer escavações na localidade. Isto será possível tão logo o Museu Nacional obtenha autorização para o trabalho de campo da mestranda
Mais informações sobre o filme: curtaquilombo@gmail.com.
______________* Michelle Reis é jornalista.
esse era o cara
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