segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dados sobre as escavações no sítio arqueológico Aldeia do Portinho*


O sítio arqueológico Aldeia do Portinho foi encontrado e registrado no IPHAN no ano de 2007, por técnicos do Laboratório de Arqueologia Brasileira, quando da realização de uma Avaliação de Potencial Arqueológico para a implantação de um condomínio.

Naquela oportunidade foi delineado o que denominamos como: “Complexo de Sítios Arqueológicos do Portinho”, composto por dois sambaquis clássicos e duas aldeias, uma delas destruídas, de nativos agricultores-ceramistas, nelas a convivência com sambaquieiros é clara. O sítio “Aldeia do Portinho” pode ser datado, relativamente, entre 2.000 e 1.500 a.p, o que equivale “grosso modo” ao período de tempo entre 450 a.c e 50 d.c. Foi habitado por duas sociedades distintas: a sociedade sambaquieira e a sociedade de agricultores–ceramistas da tradição Una.

Os sambaquieiros formavam uma sociedade simples caracterizada por pequenos grupos humanos; sem uma forma de liderança clara; com economia baseada na pesca, coleta e caça; produtora de uma bela indústria lítica e óssea; e construtora de pequenos montes compostos por restos alimentares, habitações, sepultamentos ...

A sociedade de agricultores–ceramistas da tradição Una era composta por grupos humanos maiores; com características tribais; liderança bem marcada; economia baseada na agricultura do milho. Sua cerâmica é muito característica: com tratamento de superfície presente através da aplicação da técnica de polimento, decoração simples e acabamento liso. Os assentamentos da tradição Una estariam relacionados a um processo lento de difusão da cerâmica mais antiga da América do Sul, denomina estilo Pedra do Caboclo, cuja origem é o médio Amazonas. Esses nativos chegam à região sudeste provenientes do centro-oeste do atual Brasil. Instalam-se no Cabo Frio por volta de 890 da nossa era.

Na Aldeia do Portinho as características dessas duas sociedades são encontradas de forma harmônica. Nesse sítio não há indícios de guerra. Possui estruturas de habitação representada por buracos de estaca de pequenas cabanas; grandes estruturas de combustão (fogueiras), com presença de ossos humanos carbonizados e parecem estar relacionadas à presença de ritual de cremação; restos alimentares em geral (peixes, felinos e aves); lascas de quartzo, pontas ósseas, adornos, artefatos em material lítico polido, e sepultamentos. Dois artefatos demonstram que os nativos desse espaço teciam fibras (característica marcadamente Una): uma agulha e um fragmento de disco de fuso para tecelagem. Esse tipo de artefato ou seu produto final só é encontrado em cavernas mineiras, ou na serra fluminense. Com ele poderiam ser feitas redes de dormir, de pesca ...

A interação entre essas duas populações irá, muito provavelmente, levar à transformação completa da sociedade sambaquieira por volta do século V a.c. Assim, é possível dizer que esse sítio representa não só um espaço de convivência entre duas culturas distintas, bem como, uma das últimas expressões de uma delas.

* Texto escrito pela arqueóloga Jeane Cordeiro, coordenadora das pesquisas no local da escavação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário